Fictícios




o super-cortina / the super-curtain
Acrylic on canvas
150 x 120 cm
, 2009







o homem invisível / the invisible man
Acrylic on canvas
120 x 160 cm
, 2009








o sétimo anão / the seventh dwarf
Acrylic on canvas
170 x 130 cm
, 2008








a cigarra e a formiga / the grasshopper and the ant
Acrylic on canvas
160 x 120 cm
, 2009







É tarde, muito tarde! / It's late, very late!
Acrylic on canvas
150 x 100 cm
, 2009







o voo do porco / the flight of the pig
Acrylic on canvas
150 x 110 cm
, 2009








princesas / princesses
Acrylic on canvas
120 x 140 cm
, 2008








cuidado com a maçã / be careful with the apple
Acrylic on canvas
110 x 150 cm
, 2008






(scroll down for english version)


Fictícios trata de personagens pertencentes a um mundo imaginário que foram evocados até serem tão tangíveis que se converteram no nosso vizinho da frente.
São personagens vindos de uma memória colectiva. Protagonistas que, a salvo num mundo ficcionado conservariam as suas características especiais, mas que ao entrar em contacto com o mundo quotidiano se tornam fictícios e continuam a sua transformação até se converterem em indivíduos normais em lugares comuns.
O tempo do extraordinário superherói, ou do fantástico anão foi substituido pelo tempo do indivíduo, com o qual irremediavelmente nos identificamos. O indivíduo actual é captável pelo instante fotográfico, depois convertido em instante pictórico.
São duas as dimensões em jogo. Por um lado a aproximação à memória colectiva através da recuperação das personagens protagonistas de contos ou histórias clássicas; por outro lado o instante congelado de uma situação quotidiana. A sobreposição destas duas dimensões (ficção-realidade) aparentemente antagónicas apresenta-nos uma série de questões. Será a ficção a realidade dos personagens que habitam as imagens?, ou serão mais reais os contos, as narrações clássicas, alicerces da nossa educação, e inquestionáveis habitantes do nosso imaginário?
A ideia de utilizar, de nomear figuras de contos clássicos para a realização destas imagens pertence à origem do processo, personagens cuja identidade se foi diluindo no próprio acto de pintar. É aí que se separam os tempos, as épocas. Se estas figuras da memória colectiva pertencem ao tempo da narração, onde têm como principal característica servir de símbolos morais, ao serem transladados para o tempo da imagem, perdem a sua carga moral para ganharem em sentido estético. Os personagens fictícios são agora individuos actuais, sujeitos habitantes de uma situação normal. Serão agora mais ou menos fictícios?
Este conjunto de imagens mostra uma realidade que se deseja reconhecível, próxima à experiência do espectador que as visita, daí que as cenas se situem em interiores domésticos, ruas, salas de espera,... As histórias às quais faz referência também são comuns.
Fictícios joga com códigos legíveis ao espectador, para encontrar uma conecção que o identifique com a série de imagens que, para além do desfrute estético, o passeia por uma memória próxima, e pela própria visão de si mesmo. Apresenta-se o indivíduo a si próprio, dentro de uma realidade ficcionada.
Joana Lucas
Berlim, Março de 2009


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Fictícios (Fictitious) is about characters belonging to an imaginary world that were evoked until they were so tangible that they became our front neighbour.

They are characters from a collective memory. Protagonists who, safe in a fictional world, would retain their special characteristics, but who, by coming into contact with the everyday life, become fictitious and continue their transformation until they become normal individuals in common places.

The time of the extraordinary superhero, or of the fantastic dwarf has been replaced by the time of the individual, with whom we irredeemably identify. The present individual is captured by the photographic instant, then converted into a pictorial image.

There are two dimensions at stake. On the one hand the approach to collective memory through the recovery of the protagonist characters of classic tales or stories; on the other hand the frozen instant of a daily situation. The overlapping of these two dimensions (fiction-reality) apparently antagonistic presents us with a series of questions. Is actuality a fiction, the reality of the characters that inhabit the images? or are the stories, the classic narratives, the foundations of our education, and unquestionable inhabitants of our imaginary more real?

The idea of using and naming classic storytelling figures to make these images belongs to the origin of the process, characters whose identity has been diluted in the very act of painting. That is where the times are separated. If these figures from the collective memory belong to the time of narration, where their main characteristic is to serve as moral symbols, when they are translated into the time of the image, they lose their moral burden to gain in aesthetic sense. The fictional characters are now current individuals, subjects living in a normal situation. Are they now more or less fictitious?

This set of images shows a reality that is desired to be recognizable, close to the experience of the spectator who visits them, hence the scenes are located in domestic interiors, streets, waiting rooms,? The stories to which they refer are also common.

Fictitious plays with codes that are readable to the spectator, to find a connection that identifies them with the series of images that, besides the aesthetic enjoyment, walk them to a close memory, and to the very vision of them-self. The individual is presented to them-self within a fictional reality.

Joana Lucas

Berlin, March 2009