Joana Lucas + Jose del Palo
Echo imprint
Acrylic on canvas, 190 x 130 cm
Joana Lucas + Jose del Palo, 2014
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Human landscape
Acrylic on canvas, 190 x 130 cm
Joana Lucas + Jose del Palo, 2014
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Mind-wanderer
Acrylic on canvas, 190 x 140 cm
Joana Lucas + Jose del Palo, 2014
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Swan Lake
Acrylic on canvas, 190 x 140 cm
Joana Lucas + Jose del Palo, 2014
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Urban Sublime 1-18
Acrylic on canvas, 18x (100 x 100 cm)
Joana Lucas + Jose del Palo, 2014
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A rua escancara o alheamento. O espaço público pertence a todos, mas a ninguém. O olhar abre caminho entre incontáveis estímulos, distraidamente alerta. O mundo visível é o recéptaculo de todas as projecções, vemos o que sabemos e como sabemos. Seguimos o fio de sentido necessário para chegar do ponto A ao ponto B, mas a trajectória está longe de ser linear, vai prender-se e perder-se em desvios, atalhos, distracções, um volume esmagador de informação para processar, para poder preservar o nosso lugar relativo no mundo, o nosso cabimento. Joana Lucas e Jose del Palo recolocam-nos na experiência do transeunte, precisamente na rua que agora lhes é mais familiar, Oranienstrasse, uma das artérias centrais de Berlim. Mas não nos convidam a pôr-nos no seu lugar ou a seguir os seus passos. Toda a familiaridade ou estranheza que vamos encontrar, será no seio da nossa própria experiência de estar na rua, da mente que vagueia a par e passo com as pernas. E também não vamos chegar ao destino. Vamos permanecer no caminho, tanto quanto for possível perder-nos, nos seus detalhes, nos seus obstáculos. À medida que nos adentramos nesta paisagem massiva, teremos cada vez menos a visão do seu conjunto. Mas a sua superfície, será cada vez mais a nossa pele, bem como mais humana, será também a visão, construída, composta, reflexiva, transitória, fugaz, fragmentária. Por isso, a sua fragmentação não seja de todo fortuita. Cada fragmento nega a panorâmica, sem contudo negar a sua amplitude. Cada fragmento é um estilhaço pronto a estilhaçar-se ainda mais ou mesmo dinamitar os outros. A dada altura, talvez o eixo espaço-tempo perca a sua geometria e aquilo que soubermos da realidade será apenas o que pedimos emprestado à sua aparência, pois estaremos mais perto de estar a caminhar num sonho em que cada relance parece querer invocar arquétipos. Mas, sem descurar o facto de na rua estarmos normalmente de passagem, nesse momento teremos essa vantagem, a de sermos passageiros. Ou visitantes, à distância segura que nos aproxima da sublimação. O sublime acelerado é afinal o seu retardamento, um prolongamento indefinido do quanto coseguiremos suportá-lo e percorrê-lo sem mapa.
Nuno
Viegas, Berlim, Setembro de 2014
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The street had opened up to alienation. Public space belongs to everyone, but to no one. The gaze opens the way among countless stimuli, distractedly alert. The visible world is the septacle of all projections, we see what we know and how we know it. We follow the thread of direction needed to get from point A to point B, but the trajectory is far from linear, it will get stuck and lost in detours, shortcuts, distractions, an overwhelming volume of information to process, in order to preserve our relative place in the world. Joana Lucas and Jose del Palo put us back in the experience of the passer-by, precisely in the street that is now more familiar to them, Oranienstrasse, one of the central arteries of Berlin. But they do not invite us to put ourselves in their place or to follow in their footsteps. All the familiarity or strangeness we will find will be within our own experience of being in the street, the mind that wanders along with our legs. And we will not reach our destination either. We will stay on the path, as long as we can get lost, in its details, in its obstacles. As we enter this massive landscape, we will have less and less vision of it as a whole. But its surface, will be more and more our skin, as well as more human, will also be the vision, built, composed, reflective, transitory, fleeting, fragmentary. Therefore, its fragmentation will not be at all fortuitous. Each fragment denies the panorama, without denying its amplitude. Each fragment is a shrapnel ready to shatter even more or even dynamite the others. At a certain point, perhaps the space-time axis loses its geometry and what we know of reality will only be what we borrowed from its appearance, for we will be closer to walking in a dream in which each glance seems to want to invoke archetypes. But, without neglecting the fact that we are normally on the street, at that moment we will have that advantage, that of being passengers. Or visitors, at the safe distance that brings us closer to sublimation. The sublime acceleration is after all its delay, an indefinite prolongation of how much we will bear it and walk it without a map.
Nuno Viegas, Berlin, September 2014